segunda-feira, 1 de julho de 2013

Rei Dominus - Por Salomon







CAPITULO 1 - O CAVALEIRO

                Galopava com graça e determinação sempre em frente sem cessar ao menos um instante a corrida. Mensageiro rumava apressadamente montado em seu cavalo branco, rumo ao castelo do reino, seus cabelos esvoaçavam ao vento que lhe batia no rosto, em seu sinto, uma espada reluzente pendulava e teimava em cair, não fosse a bainha firme, já a teria perdido a milhares de quilômetros atrás. Galopava a toda passando por campos verdes gramados, terrenos largos e belas paisagens verdejantes, cruzou velozmente uma ponte de pedras que dava caminho a beira de um penhasco a outro, atravessou mais campos verdes onde belas paisagens enfeitavam o horizonte ao redor até chegar à entrada de um enorme castelo. Havia uma ponte levadiça baixada, antes de adentra-la, Mensageiro puxou as rédeas da montaria, cessando a correria desenfreada, desceu do cavalo amarrando-o fiel amigo a uma estaca fincada ao chão que servia justamente para este proposito. Em seguida adentrou o castelo.
                Logo na entrada, estranhou. O castelo era realmente grande, porém, parecia vazio. “onde estão os cavaleiros que deveriam estar montando guarda sobre os muros do castelo?”, “por que os portões estavam abertos e a ponte levadiça baixada?”. Perguntava-se enquanto atravessava um enorme e empoeirado salão. Mais adiante após um pequeno lance de escadas com sete degraus, Avistou um majestoso trono entre dois tronos pouco menores, também empoeirados e habitados por teias de aranhas. Novamente se viu cercado confuso:
                -Olá! Tem alguém aí?-.
                Esperou ouvir uma resposta, em vão, o lugar parecia mais um castelo fantasma. Começava a pensar que tinha dado uma viagem de tão longe e tão sofrida por nada. Aproximou-se do trono empoeirado, passou a mão no assento tirando o excesso de teias de aranhas, olhou em volta do palácio real mais uma vez. O lugar tinha uma atmosfera pouco obscura, ainda era de manhã e o sol há pouco havia se posto no céu, mesmo assim, a iluminação no palácio era escassa.
                -Olá tem alguém aí? Eu trouxe uma mensagem ao rei-
                Novamente aguardou em vão alguma resposta. Convencido de que estava sozinho no local, se pôs a sentar no trono. Devido à longa viagem a cavalo, o mensageiro estava cansado, ao menos pode sentar-se por um instante para descansar, precisava recuperar as energias para fazer o longo percurso de volta, já que aparentemente a viagem havia sido perdida, era seu dever devolver a mensagem ao remetente. Sentiu acolchoado do trono real macio, aconchegante, uma ótima sensação estar naquele trono.
                Enquanto isso, do outro lado do palácio, trajando vestes negras com um capuz que lhe escondia todo o rosto, uma vultosa mulher que estava observar o estranho visitante desde sua entrada no castelo, pôs-se a subir as escadas, um extenso lance de escadas em espiral que parecia não ter fim, até chegar a um largo corredor, atravessou-o chegando frente a uma porta. Com passos leves e delicados entraram no cômodo.    O “quarto” do rei era amplamente aberto, havia uma grande cama no centro, na parede uma larga janela com cortinas brancas esvoaçando ao vento que entrava pela janela aberta. A de vestes negras aproximou-se da cama onde um volume se mantinha encoberto por tecidos brancos.
                -meu rei, há um cavaleiro no palácio real-. Pronunciou a conselheira próxima ao amontoado sobre a cama.
                O volume envolto por grossos lençóis se manteve imóvel.
                -Ele diz ter uma mensagem para o Senhor-. Continuou a Conselheira.
                -Não perturbe o sono real Conselheira, me deixe em paz-. Disse a voz debaixo dos lençóis se mexendo procurando uma posição mais confortável na cama.
                -Mas meu rei, o homem o espera no palácio-. Insistiu a conselheira sentando-se á beira da cama, com o olhar dirigido ao rei envolto pelos brancos lençóis.
                -Não quero saber de homem algum, me deixe dormir conselheira ou então te levo á forca ora-. Pronunciou rei em tom de voz embraveada.
                -Mas meu rei, o homem está sentado no seu trono agora mesmo-. Proferiu em uma ultima tentativa a Conselheira.
                 Após ouvir essas palavras da Conselheira, o Rei que até então se mantinha imóvel deitado em sua cama real, se levanta bruscamente da cama, jogado os lençóis que o envolviam dos pés a cabeça em um canto do cômodo.
                -SAIA DO MEU TRONO SEU MALDITO!-
                Rapidamente, o rei atravessa o quarto em direção ao corredor rumo ao palácio real, seguido por Conselheira. Logo ambos descendo as escadas, avistam sentado no trono o jovem cabeludo com uma espada de cabo reluzente presa na cintura.
                -Se não queres ser levado á forca cavaleiro, sugiro que tire sua bunda do meu trono agora mesmo-.
                 Mensageiro assustado com o homem que vinha furiosamente em sua direção, rapidamente levantou-se do trono e se afastou alguns passos.
                -Cavaleiro senhor? Estás enganado sobre minha pessoa, sou apenas um humilde mensageiro-. Proferiu Mensageiro tirando de sua bolsa de couro viagem um envelope lacrado.
                -Não interessa, você profanou meu trono sagrado, merece uma punição severa por isso-. Interrompeu o Rei.
                Mensageiro aquiesceu-se, só então descobrira que aquele a sua frente era o rei a quem deveria levar a mensagem.
                -Perdoe-me vossa realeza por interferir dessa forma, mas como sua conselheira real, acho sábio que ouça a mensagem que o jovem tem a dizer-. Interferiu a de adornas sombria.
                 Rei e Mensageiro se se voltaram assustados para Conselheira fazendo um breve momento de silencio. Rei volta novamente a encarar mensageiro:
                -Ora cavaleiro. Qual é a mensagem afinal? .
                -Não sou cavaleiro vossa alteza, sou apenas um mensageiro-. Indagou abrindo o envelope e expondo a carte sobre os olhos, o salão largo estava pouco escuro, mas havia luz suficiente para ler a mensagem.






                “Magestoso Rei Dominus... Oque aconteceu com os antigos soldados? O que aconteceu com as servas? Onde está vossa rainha? Acabo de ler sua ultima carta e devo confessar que estou desapontado com sua irresponsabilidade para com seu reino. Dentre nossas servas que se candidataram a servi-lo e ao castelo, somente posso mandar-lhe uma, isso devido sua pouca contribuição para a nossa aliança, que na ultima contagem não excedeu os 15% que fora negociado no tratado que assinamos, lamento por isso, então para o seu apelo de cem soldados, cinquenta servas e uma cozinheira real, ofereço apenas uma única serva, e sinta-se grato pela grandeza do meu coração que nesse ato, ainda acho que fora demasiado generoso. Assinado: o Rei do reino vizinho.”





                Após ler a carta para o rei, Mensageiro a dobra novamente e a guarda no envelope. Rei expressou sua decepção com a carta levando a mão até seus cabelos loiros e os posicionando para trás da cabeça para dar espaço à coroa que jazia sobre um dos tronos. Sentou-se e posicionou a coroa em sua cabeça. “agora sim, parece mais um rei de verdade” pensou Mensageiro.
                -Conselheira! O que faço agora?_-perguntou Rei expressando um olhar triste para a mulher.
                 Conselheira caminha até o lado do trono do rei e coloca mão sobre seu ombro em um ato de auxílio:
                -Acho que deve considerar a ajuda meu rei-.
                Mensageiro que até então estava confuso com tudo o que testemunhava ali sabia que havia algo errado naquele reino, tentava conseguir coragem para perguntar, mas vendo o rei desolado, optou por deixa-los a sós em seu momento de consternação. Deixou o envelope com a mensagem sobre o chão e lentamente se dirigia aos portões do castelo. Queria deixar aquele reino naquele instante, que reino mais esquisito, sem soldados, sem rainha, um rei estranhamente engraçado, era demais para um dia só. Desejava voltar para casa, entregar novas mensagens.
                -Aonde vai cavaleiro?- Mensageiro voltou-se para o trono, a voz do rei havia o havia assustado.
                -Não sou cavaleiro, sou o Mensageiro-.
                -Ora, se tem uma espada e sabe manuseá-la, então é cavaleiro sim-.
                -Não, não sou cavaleiro!-. Irritou-se o Mensageiro elevando a voz quase sem pensar.
                -Agora se me dá licença eu tenho de ir-.
                -É corajoso de levantar a voz contra o rei deste reino meu jovem, seria um excelente cavaleiro se não fosse um reles mensageiro-.  Pronunciou a Conselheira ao lado do rei.
                -Mas infelizmente não sou cavaleiro senhorita. Não sou!-.
                -Diga-me meu jovem e pequeno ousado, o que acha então de ser cavaleiro deste reino? -. Proferiu o rei cruzando as pernas pousando a cabeça sobre a mão alisando sua longa barba loura.
                 Mensageiro ficou imóvel, a oferta surtira o efeito desejado pelo rei, Mensageiro ficou refletindo por um breve momento, olhou em volta, analisou o reino, o rei, a conselheira. Sempre quis ser um cavaleiro, mas nunca evoluíra de um simples e humilde mensageiro. Aquela era a oportunidade que esperava a vida toda, de ser alguém importante, mais do que um Mensageiro, isso nunca mais, agora mais importante, seria o cavaleiro do rei.
                -O senhor disse Cavaleiro?-. Perguntou Mensageiro para afirmar se era realmente verdade o que acontecia ali. Sentia o coração acelerado, tentava conter a emoção mantendo a postura normal.
                -Sim, foi o que eu disse, e então! O que me diz hem? -Articulou o rei.


                -Eu aceito Senhor, digo... Vossa majestade, -. Respondeu o jovem mensageiro e aventureiro.









CAPITULO 2 - SERVA

                A carruagem avançava a todo galope, puxada por seis cavalos de pelagem negra, crinas longas e esvoaçantes ao vento. A todo o momento o cocheiro os chicoteava para força-los a manter a velocidade constante, devia estar apressado.
                Dentro do coche, uma única passageira vislumbrava com as paisagens que via do lado de fora. Vira minutos antes, uma bela floresta com altas árvores e copas atreladas que conseguiam impedir a passagem quase que total de luz. O Cocheiro que conduzia a carroça desenfreadamente havia lhe dito que aquela era a floresta Sombria, e gabava-se de ser uma das poucas pessoas que sabiam entrar e sair dela conduzindo uma carroça.
                Depois da floresta negra, a carruagem atravessou uma área com campos verdes, gramados, belíssimas paisagens, horizontes esplendidos e uma fleuma sem igual. 
                Começava a ver a beleza daquela viagem, até chegarem à ponte do Abismo Maldito. Da janela a passageira via a imensidão profunda do abismo traiçoeiro, mas não conseguia ver o seu fim. Teve a impressão de ter sido notada por algo ou alguém por perto. Sentiu enjoo de tanto olhar para o abismo, será por isso que deram esse nome? Abismo Maldito?!
                A carruagem atravessava a ponte aceleradamente quase que desenfreada, estava claro que o condutor estava apressado ou alarmado com algo, mas a passageira não notara esse detalhe, estava tão hipnotizada pelo seu novo futuro lar que deixava passar os sinais que de alguma forma lhe eram mandados. Só pelos títulos dos lugares ela poderia saber o que a aguardava: Floresta Sombria, Ponte do Abismo Maldito e até o próprio Abismo Maldito, e havia também as lendas sobre seu novo rei, lendas que ela nunca quisera ouvir e por isso as ignorava.
                De dentro da desconfortável condução que chacoalhava como se tivesse sido possuída (e talvez realmente estivesse possuída), a jovem moça sentiu a velocidade do veiculo cessar rapidamente. Pela janela ela viu mais uma vez, belos campos floridos e gramados verdejantes com árvores altíssimas que enfeitavam o enorme jardim do reino. Notou também o imenso castelo a pouco mais de cem metros à frente, protegido por altíssimos muros e uma ponte levadiça não erguida. Ao lado da ponte avistou um belíssimo cavalo branco amarrado a uma haste fincada no chão, alimentando-se da grama verde que havia em abundancia por ali.
                -Chegamos Senhorita!-. Anunciou o cocheiro após parar os cavalos que exaustos também se puseram a deliciar-se da grama verde. Cocheiro desceu da carruagem e abriu a porta para a moça que agradecida ensaiou um “obrigado”.
                Desceu com dificuldade, pois parecia que a viagem havia lhe sugado as energias, quase caiu desajeitada ao por o pé na grama macia que agora notava que era mais alta do que parecia. Voltou a olhar para o cavalo branco que estava ao lado da ponte levadiça que se encontrava baixada naquele momento.
                Aproximou-se com cuidado, levou a mão até seu dorso, começou a acariciar a crina do cavalo com delicadeza enquanto o cocheiro dava a volta com sua carruagem desenfreada, tomou rumo à ponte do abismo e partiu apressadamente. Se a serva fosse mais atenta teria notado a expressão de medo no rosto do cocheiro, que na verdade partira fugindo dali, receando algo absurdamente grande, destruidor e aterrorizante.
                -Que estranho, onde estão os guardas do castelo e os camponeses?- Perguntou ao cavalo sem esperar resposta, em seguida adentrou pela ponte levadiça até a entrada do castelo. Esperava ser abordada por um guarda do castelo, mas não havia ninguém ali. Continuou caminhando calmamente carregando seus poucos pertences preso as costas até alcançar uma sala amplamente larga.
                -Olá! Tem alguém aí?-
                Sua voz vagueava pelo salão fazendo eco e deixando-a mais nervosa, começava a achar que o lugar era abandonado e sua viagem fora por nada. Arriscou mais alguns passos, chegou à frente de sete degraus, subiu-os rapidamente.
                -Tem alguém aí?­- seus olhos foram de encontro ao outro lado da grande sala, onde estavam os três tronos reais, o maior no meio.  “Então essa é a sala do trono”, proferiu em pensamento ao mesmo tempo em que se aproximava. Já estava quase que totalmente convencida de que estava sozinha no castelo, não via problema se resolvesse sentar no trono real, estava cansada da viagem e o trono parecia ser mil vezes mais confortável do que o assento duro da carroça pela qual havia atravessado milhares de quilômetros. Precisava descansar um pouco.
                Já estava próximo ao trono maior, mas antes que pudesse virar-se para sentar nele. Sentiu o toque delicado da lamina gelada de uma espada em seu pescoço.
                -Nem pense em profanar meu trono com seu traseiro, ou eu a condenarei á forca-.
 Um leve gemido ecoou pelo salão. Havia levado o maior susto de sua vida, no entanto, mantinha a calma, pois havia uma lamina tocando seu pescoço.
                -Seu trono? Então o senhor é o rei Dominus?-
                -Sim, eu sou o rei desse castelo, e você? Acaso é uma camponesa sem teto que veio se refugiar aqui? Ou é uma assassina mandada para me matar?-
                 A serva ainda tremula, sentindo a lâmina fria da espada no lado do pescoço sem chance de olhar para trás e ver quem a empunhava, sem chances de revidar ou se defender, optou por ficar quieta e paciente, mesmo sendo difícil manter a calma objetiva quando uma espada risca decepar sua cabeça do restante do corpo.
                -Não sou assassina, nem sem teto e nem camponesa meu Senhor. Sou a serva enviada pelo reino vizinho para servi-lo, deveria ter vindo uma carta prevendo-o da minha breve chegada-. Respondeu a serviçal erguendo calmamente a mão até a lâmina da espada afastando a arma mortal do pescoço com o leve e delicado toque de seu dedo.

                -Ah... A carta! Sim, veio uma carta. Você está pisando nela!




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