Galopava
com graça e determinação sempre em frente sem cessar ao menos um instante a
corrida. Mensageiro rumava apressadamente montado em seu cavalo branco, rumo ao
castelo do reino, seus cabelos esvoaçavam ao vento que lhe batia no rosto, em
seu sinto, uma espada reluzente pendulava e teimava em cair, não fosse a bainha
firme, já a teria perdido a milhares de quilômetros atrás. Galopava a toda
passando por campos verdes gramados, terrenos largos e belas paisagens
verdejantes, cruzou velozmente uma ponte de pedras que dava caminho a beira de
um penhasco a outro, atravessou mais campos verdes onde belas paisagens
enfeitavam o horizonte ao redor até chegar à entrada de um enorme castelo.
Havia uma ponte levadiça baixada, antes de adentra-la, Mensageiro puxou as
rédeas da montaria, cessando a correria desenfreada, desceu do cavalo
amarrando-o fiel amigo a uma estaca fincada ao chão que servia justamente para
este proposito. Em seguida adentrou o castelo.
Logo na entrada, estranhou. O
castelo era realmente grande, porém, parecia vazio. “onde estão os cavaleiros
que deveriam estar montando guarda sobre os muros do castelo?”, “por que os
portões estavam abertos e a ponte levadiça baixada?”. Perguntava-se enquanto
atravessava um enorme e empoeirado salão. Mais adiante após um pequeno lance de
escadas com sete degraus, Avistou um majestoso trono entre dois tronos pouco
menores, também empoeirados e habitados por teias de aranhas. Novamente se viu
cercado confuso:
-Olá!
Tem alguém aí?-.
Esperou
ouvir uma resposta, em vão, o lugar parecia mais um castelo fantasma. Começava
a pensar que tinha dado uma viagem de tão longe e tão sofrida por nada.
Aproximou-se do trono empoeirado, passou a mão no assento tirando o excesso de
teias de aranhas, olhou em volta do palácio real mais uma vez. O lugar tinha
uma atmosfera pouco obscura, ainda era de manhã e o sol há pouco havia se posto
no céu, mesmo assim, a iluminação no palácio era escassa.
-Olá
tem alguém aí? Eu trouxe uma mensagem ao rei-
Novamente
aguardou em vão alguma resposta. Convencido de que estava sozinho no local, se
pôs a sentar no trono. Devido à longa viagem a cavalo, o mensageiro estava
cansado, ao menos pode sentar-se por um instante para descansar, precisava
recuperar as energias para fazer o longo percurso de volta, já que
aparentemente a viagem havia sido perdida, era seu dever devolver a mensagem ao
remetente. Sentiu acolchoado do trono real macio, aconchegante, uma ótima
sensação estar naquele trono.
Enquanto
isso, do outro lado do palácio, trajando vestes negras com um capuz que lhe
escondia todo o rosto, uma vultosa mulher que estava observar o estranho
visitante desde sua entrada no castelo, pôs-se a subir as escadas, um extenso
lance de escadas em espiral que parecia não ter fim, até chegar a um largo corredor,
atravessou-o chegando frente a uma porta. Com passos leves e delicados entraram
no cômodo. O “quarto” do rei era
amplamente aberto, havia uma grande cama no centro, na parede uma larga janela
com cortinas brancas esvoaçando ao vento que entrava pela janela aberta. A de
vestes negras aproximou-se da cama onde um volume se mantinha encoberto por
tecidos brancos.
-meu
rei, há um cavaleiro no palácio real-. Pronunciou a conselheira próxima ao
amontoado sobre a cama.
O
volume envolto por grossos lençóis se manteve imóvel.
-Ele
diz ter uma mensagem para o Senhor-. Continuou a Conselheira.
-Não
perturbe o sono real Conselheira, me deixe em paz-. Disse a voz debaixo dos
lençóis se mexendo procurando uma posição mais confortável na cama.
-Mas
meu rei, o homem o espera no palácio-. Insistiu a conselheira sentando-se á
beira da cama, com o olhar dirigido ao rei envolto pelos brancos lençóis.
-Não
quero saber de homem algum, me deixe dormir conselheira ou então te levo á forca
ora-. Pronunciou rei em tom de voz embraveada.
-Mas
meu rei, o homem está sentado no seu trono agora mesmo-. Proferiu em uma ultima
tentativa a Conselheira.
Após ouvir essas palavras da Conselheira, o
Rei que até então se mantinha imóvel deitado em sua cama real, se levanta
bruscamente da cama, jogado os lençóis que o envolviam dos pés a cabeça em um
canto do cômodo.
-SAIA
DO MEU TRONO SEU MALDITO!-
Rapidamente,
o rei atravessa o quarto em direção ao corredor rumo ao palácio real, seguido
por Conselheira. Logo ambos descendo as escadas, avistam sentado no trono o
jovem cabeludo com uma espada de cabo reluzente presa na cintura.
-Se não
queres ser levado á forca cavaleiro, sugiro que tire sua bunda do meu trono
agora mesmo-.
Mensageiro assustado com o homem que vinha
furiosamente em sua direção, rapidamente levantou-se do trono e se afastou
alguns passos.
-Cavaleiro
senhor? Estás enganado sobre minha pessoa, sou apenas um humilde mensageiro-.
Proferiu Mensageiro tirando de sua bolsa de couro viagem um envelope lacrado.
-Não
interessa, você profanou meu trono sagrado, merece uma punição severa por isso-.
Interrompeu o Rei.
Mensageiro
aquiesceu-se, só então descobrira que aquele a sua frente era o rei a quem
deveria levar a mensagem.
-Perdoe-me
vossa realeza por interferir dessa forma, mas como sua conselheira real, acho
sábio que ouça a mensagem que o jovem tem a dizer-. Interferiu a de adornas
sombria.
Rei e Mensageiro se se voltaram assustados
para Conselheira fazendo um breve momento de silencio. Rei volta novamente a
encarar mensageiro:
-Ora
cavaleiro. Qual é a mensagem afinal? ‑.
-Não
sou cavaleiro vossa alteza, sou apenas um mensageiro-. Indagou abrindo o
envelope e expondo a carte sobre os olhos, o salão largo estava pouco escuro,
mas havia luz suficiente para ler a mensagem.
“Magestoso Rei Dominus... Oque aconteceu com os antigos soldados? O que aconteceu
com as servas? Onde está vossa rainha? Acabo de ler sua ultima carta e devo
confessar que estou desapontado com sua irresponsabilidade para com seu reino.
Dentre nossas servas que se candidataram a servi-lo e ao castelo, somente posso
mandar-lhe uma, isso devido sua pouca contribuição para a nossa aliança, que na
ultima contagem não excedeu os 15% que fora negociado no tratado que assinamos,
lamento por isso, então para o seu apelo de cem soldados, cinquenta servas e
uma cozinheira real, ofereço apenas uma única serva, e sinta-se grato pela
grandeza do meu coração que nesse ato, ainda acho que fora demasiado generoso.
Assinado: o Rei do reino vizinho.”
Após ler a carta para o rei,
Mensageiro a dobra novamente e a guarda no envelope. Rei expressou sua decepção
com a carta levando a mão até seus cabelos loiros e os posicionando para trás
da cabeça para dar espaço à coroa que jazia sobre um dos tronos. Sentou-se e
posicionou a coroa em sua cabeça. “agora sim, parece mais um rei de verdade”
pensou Mensageiro.
-Conselheira!
O que faço agora?_-perguntou Rei expressando um olhar triste para a mulher.
Conselheira caminha até o lado do trono do rei
e coloca mão sobre seu ombro em um ato de auxílio:
-Acho
que deve considerar a ajuda meu rei-.
Mensageiro que até então estava
confuso com tudo o que testemunhava ali sabia que havia algo errado naquele
reino, tentava conseguir coragem para perguntar, mas vendo o rei desolado,
optou por deixa-los a sós em seu momento de consternação. Deixou o envelope com
a mensagem sobre o chão e lentamente se dirigia aos portões do castelo. Queria
deixar aquele reino naquele instante, que reino mais esquisito, sem soldados,
sem rainha, um rei estranhamente engraçado, era demais para um dia só. Desejava
voltar para casa, entregar novas mensagens.
-Aonde
vai cavaleiro?- Mensageiro voltou-se para o trono, a voz do rei havia o havia
assustado.
-Não
sou cavaleiro, sou o Mensageiro-.
-Ora,
se tem uma espada e sabe manuseá-la, então é cavaleiro sim-.
-Não,
não sou cavaleiro!-. Irritou-se o Mensageiro elevando a voz quase sem pensar.
-Agora se
me dá licença eu tenho de ir-.
-É
corajoso de levantar a voz contra o rei deste reino meu jovem, seria um
excelente cavaleiro se não fosse um reles mensageiro-. Pronunciou a Conselheira ao lado do rei.
-Mas
infelizmente não sou cavaleiro senhorita. Não sou!-.
-Diga-me
meu jovem e pequeno ousado, o que acha então de ser cavaleiro deste reino? -.
Proferiu o rei cruzando as pernas pousando a cabeça sobre a mão alisando sua
longa barba loura.
Mensageiro ficou imóvel, a oferta surtira o
efeito desejado pelo rei, Mensageiro ficou refletindo por um breve momento,
olhou em volta, analisou o reino, o rei, a conselheira. Sempre quis ser um
cavaleiro, mas nunca evoluíra de um simples e humilde mensageiro. Aquela era a
oportunidade que esperava a vida toda, de ser alguém importante, mais do que um
Mensageiro, isso nunca mais, agora mais importante, seria o cavaleiro do rei.
-O
senhor disse Cavaleiro?-. Perguntou Mensageiro para afirmar se era realmente
verdade o que acontecia ali. Sentia o coração acelerado, tentava conter a
emoção mantendo a postura normal.
-Sim,
foi o que eu disse, e então! O que me diz hem? -Articulou o rei.
-Eu
aceito Senhor, digo... Vossa majestade, -. Respondeu o jovem mensageiro e aventureiro.
CAPITULO 2 - SERVA
A carruagem
avançava a todo galope, puxada por seis cavalos de pelagem negra, crinas longas
e esvoaçantes ao vento. A todo o momento o cocheiro os chicoteava para
força-los a manter a velocidade constante, devia estar apressado.
Dentro do
coche, uma única passageira vislumbrava com as paisagens que via do lado de
fora. Vira minutos antes, uma bela floresta com altas árvores e copas atreladas
que conseguiam impedir a passagem quase que total de luz. O Cocheiro que conduzia
a carroça desenfreadamente havia lhe dito que aquela era a floresta Sombria, e
gabava-se de ser uma das poucas pessoas que sabiam entrar e sair dela
conduzindo uma carroça.
Depois
da floresta negra, a carruagem atravessou uma área com campos verdes, gramados,
belíssimas paisagens, horizontes esplendidos e uma fleuma sem igual.
Começava
a ver a beleza daquela viagem, até chegarem à ponte do Abismo Maldito. Da
janela a passageira via a imensidão profunda do abismo traiçoeiro, mas não
conseguia ver o seu fim. Teve a impressão de ter sido notada por algo ou alguém
por perto. Sentiu enjoo de tanto olhar para o abismo, será por isso que deram
esse nome? Abismo Maldito?!
A
carruagem atravessava a ponte aceleradamente quase que desenfreada, estava claro
que o condutor estava apressado ou alarmado com algo, mas a passageira não
notara esse detalhe, estava tão hipnotizada pelo seu novo futuro lar que
deixava passar os sinais que de alguma forma lhe eram mandados. Só pelos
títulos dos lugares ela poderia saber o que a aguardava: Floresta Sombria,
Ponte do Abismo Maldito e até o próprio Abismo Maldito, e havia também as
lendas sobre seu novo rei, lendas que ela nunca quisera ouvir e por isso as
ignorava.
De
dentro da desconfortável condução que chacoalhava como se tivesse sido possuída
(e talvez realmente estivesse possuída), a jovem moça sentiu a velocidade do
veiculo cessar rapidamente. Pela janela ela viu mais uma vez, belos campos
floridos e gramados verdejantes com árvores altíssimas que enfeitavam o enorme
jardim do reino. Notou também o imenso castelo a pouco mais de cem metros à
frente, protegido por altíssimos muros e uma ponte levadiça não erguida. Ao
lado da ponte avistou um belíssimo cavalo branco amarrado a uma haste fincada
no chão, alimentando-se da grama verde que havia em abundancia por ali.
-Chegamos
Senhorita!-. Anunciou o cocheiro após parar os cavalos que exaustos também se
puseram a deliciar-se da grama verde. Cocheiro desceu da carruagem e abriu a
porta para a moça que agradecida ensaiou um “obrigado”.
Desceu
com dificuldade, pois parecia que a viagem havia lhe sugado as energias, quase
caiu desajeitada ao por o pé na grama macia que agora notava que era mais alta
do que parecia. Voltou a olhar para o cavalo branco que estava ao lado da ponte
levadiça que se encontrava baixada naquele momento.
Aproximou-se com cuidado, levou a
mão até seu dorso, começou a acariciar a crina do cavalo com delicadeza
enquanto o cocheiro dava a volta com sua carruagem desenfreada, tomou rumo à
ponte do abismo e partiu apressadamente. Se a serva fosse mais atenta teria
notado a expressão de medo no rosto do cocheiro, que na verdade partira fugindo
dali, receando algo absurdamente grande, destruidor e aterrorizante.
-Que
estranho, onde estão os guardas do castelo e os camponeses?- Perguntou ao
cavalo sem esperar resposta, em seguida adentrou pela ponte levadiça até a
entrada do castelo. Esperava ser abordada por um guarda do castelo, mas não
havia ninguém ali. Continuou caminhando calmamente carregando seus poucos
pertences preso as costas até alcançar uma sala amplamente larga.
-Olá!
Tem alguém aí?-
Sua voz
vagueava pelo salão fazendo eco e deixando-a mais nervosa, começava a achar que
o lugar era abandonado e sua viagem fora por nada. Arriscou mais alguns passos,
chegou à frente de sete degraus, subiu-os rapidamente.
-Tem
alguém aí?- seus olhos foram de encontro ao outro lado da grande sala, onde
estavam os três tronos reais, o maior no meio.
“Então essa é a sala do trono”, proferiu em pensamento ao mesmo tempo em
que se aproximava. Já estava quase que totalmente convencida de que estava
sozinha no castelo, não via problema se resolvesse sentar no trono real, estava
cansada da viagem e o trono parecia ser mil vezes mais confortável do que o
assento duro da carroça pela qual havia atravessado milhares de quilômetros.
Precisava descansar um pouco.
Já
estava próximo ao trono maior, mas antes que pudesse virar-se para sentar nele.
Sentiu o toque delicado da lamina gelada de uma espada em seu pescoço.
-Nem
pense em profanar meu trono com seu traseiro, ou eu a condenarei á forca-.
Um leve gemido ecoou
pelo salão. Havia levado o maior susto de sua vida, no entanto, mantinha a
calma, pois havia uma lamina tocando seu pescoço.
-Seu
trono? Então o senhor é o rei Dominus?-
-Sim,
eu sou o rei desse castelo, e você? Acaso é uma camponesa sem teto que veio se
refugiar aqui? Ou é uma assassina mandada para me matar?-
A serva ainda tremula, sentindo a lâmina fria
da espada no lado do pescoço sem chance de olhar para trás e ver quem a empunhava,
sem chances de revidar ou se defender, optou por ficar quieta e paciente, mesmo
sendo difícil manter a calma objetiva quando uma espada risca decepar sua
cabeça do restante do corpo.
-Não
sou assassina, nem sem teto e nem camponesa meu Senhor. Sou a serva enviada
pelo reino vizinho para servi-lo, deveria ter vindo uma carta prevendo-o da
minha breve chegada-. Respondeu a serviçal erguendo calmamente a mão até a
lâmina da espada afastando a arma mortal do pescoço com o leve e delicado toque
de seu dedo.
-Ah...
A carta! Sim, veio uma carta. Você está pisando nela!
†††
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